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Testagem e Ficha de Acompanhamento
do Aluno numa Era Digital

Articuladora:

Flávia Vieira Pittaluga

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Segundo os estudos da psicogênese da língua escrita realizados por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, a criança passa por diferentes níveis de evolução conceitual na construção do seu processo de leitura e escrita.

Nesse processo a criança formula por si mesma algumas regras ou normas sobre o sistema de escrita. E a evolução desse processo se dá a partir da superação das hipóteses formuladas desde o primeiro nível até se tornar alfabética. Essa aprendizagem exige grande esforço da criança, um grande período de tempo, muitas dificuldades e cada criança é única, não tem um tempo certo para que isso ocorra.

Construções das crianças a respeito dos sinais escritos:

  •  Distinção entre o que é uma figura e o que não é uma figura

 

  •  Quantidade mínima de caracteres (não basta que haja letras é preciso uma quantidade mínima de letras, em geral por volta de 3)

 

  • Variedade interna de caracteres (é necessário que essas grafias variem, que não se repitam sempre).

 

OBS:  Essas são construções próprias da criança que vão evoluindo de uma para outra, segundo J. Piaget

Para ajudar a entender melhor o processo de construção da leitura e da escrita vamos buscar mais embasamento teórico em Emilia Ferreiro, mas é importante ressaltar que tal evolução não é igual para todas as crianças, pois cada uma tem seu ritmo próprio.

 

Hipóteses da Escrita:

 

Nível Pré-silábico

Nesta hipótese a criança não busca correspondência com o som. A criança percebe que, além do desenho, existe outra forma de representação e passa a utilizar marcas, como garatujas, números ou até letras.

 

Principais características:

  • Desenhar e escrever tem o mesmo significado;

  • Não estabelece relação entre a escrita e a fala;

  • Escrita desordenada, sem distinção de letras, números e desenhos;

  • Garatujas (desenhos e/ou rabiscos ilegíveis);

  • As palavras representam os objetos e são proporcionais a eles (exemplo: formiga = palavra pequena, elefante = palavra grande);

  • Decora a palavra para a leitura;

  • Usa as letras do próprio nome em tudo;

  • Utilizam escritas iguais para palavras diferentes.

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Exemplo: Garatujas (desenhos e/ou rabiscos ilegíveis)

Nível Silábico

Nesta hipótese a criança já entende a escrita como representação gráfica da fala. A relação com a escrita é estabelecida com o uso de uma letra para cada som. A partir daí formula a hipótese de que cada letra vale por uma sílaba. Neste nível em um primeiro momento a criança pode empregar letras sem relação com o seu valor sonoro. Para, num grau de evolução maior, começar a empregar em suas grafias consoantes ou vogais como marcos silábicos com o seu valor sonoro convencional.

 

Principais características:

  • Registra com uma letra ou outro sinal cada sílaba;

  • Escreve com uma quantidade mínima de letras e pouca variedade entre elas;

  • Não atribui valor sonoro ao que escreve;

  • Relaciona quantidade de letras a quantidade de sílabas;

  • Utiliza vogais ou consoante/vogal equivalente a alguma sílaba da palavra;

Pode ler silabando.

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Exemplo: Hipótese silábico sem valor sonoro.

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Exemplo: Hipótese silábico com valor sonoro.

Nível Silábico-Alfabético

Nesta hipótese a criança compreende que as letras correspondem os sons de forma silábica e que a sílaba não é a menor unidade da palavra. A relação com a escrita é estabelecida com o uso de vogais e/ou consoantes na escrita de palavras.

 

Principais características:

  • Faz uso de vogais e consoantes;

  • Pode omitir ou acrescentar letras;

  • Atribui o valor do fonema em algumas letras (kasa = casa).

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Exemplo: Hipótese silábico-alfabético.

Nível Alfabético

Nesta hipótese a criança compreende a função social da escrita onde se escreve para alguém ler. Passa a representar cada fonema com um signo gráfico correspondente, buscando seguir o padrão silábico consoante – vogal. Surgem conflitos que levam as crianças a descobertas de que existem regras para a escrita.

 

Principais características:

  • Reconhece o valor sonoro de todas ou quase todas as letras;

  • Percebe que a escrita não é uma representação fiel da fala e que por vezes pode haver variações (S/Z, C/S, J/G);

  • Pode omitir letras de determinada palavra (exemplo = Armário- Amario);

  • Pode trocar letras por sons parecidos (exemplo = Fivela – Vifela);

  • Pode inverter algumas letras numa determinada sílaba (exemplo = Escada – Secada);

  • Preocupa-se com a ortografia;

  • Escreve frases sem segmentação (sem espaço entre uma palavra e outra).

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Exemplo: Hipótese alfabético.

  Sugestão de vídeo: Hipóteses da Escrita? Aprenda a identificar.

E as testagens para que servem?

 

O professor precisa conhecer as teorias e processos de construção em que se dá este desenvolvimento para estabelecer um intercâmbio entre conhecimento teórico e prática pedagógica.

Por que assim, o professor percebe-se como um mediador que redimensiona suas práticas e incorpora uma postura pedagógica construída a partir de uma relação de parceria com seu aluno, onde a criança também se sentirá competente e segura para aprender através de suas ideias, construções e hipóteses.

Neste sentindo as testagens ou sondagens vem com objetivos bem mais significativos e eficazes por mediar esse processo de construção do conhecimento para identificar o que a criança já sabe, como pensa, como lê e escreve, o que significam seus diferentes desempenhos e como, enquanto professor, devo agir para que ela continue evoluindo para os níveis seguintes. Isso exige do professor um domínio consistente de conteúdo teórico e um profissional dotado de competência técnica frente a sua atuação em implementar situações de aprendizagens que permitam a criança apropriar-se do processo de alfabetização.

A TESTAGEM ou SONDAGEM é um ditado feito individualmente onde a criança escreve uma lista de palavras ditadas pelo professor. Esta lista também deve seguir uma ordem no número de sílabas de cada palavra: polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba. É importante que após a escrita a criança leia em voz alta para o professor cada palavra ditada, para que o professor perceba as relações da criança com o sistema da escrita.

Pode ser:

 

  • Com palavras do mesmo campo semântico, ou seja, a criança escreve uma lista ou um conjunto de palavras unidas pelo mesmo sentido. Se o campo semântico escolhido for frutas, por exemplo:

ABACAXI

BANANA

FIGO

UVA

A MENINA COMEU A UVA

  • Com palavras que partam de um contexto familiar para a criança como por exemplo, a partir de uma história contada, um clássico infantil. Seguindo os mesmos padrões anteriores: 4 palavras na sequência: polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba e uma frase.

Sugestão de Vídeo: Construção da Escrita: primeiros passos – parte 3 

As testagens ou sondagens servem de atividades diagnósticas de hipóteses de escrita e devem ser realizadas no início do ano letivo e no fim de cada trimestre, pois é norteadora no planejamento de aulas para que o aluno avance.  Um registro desses resultados é importante para a evolução do trabalho desenvolvido. Em cada nova testagem o professor procura os indícios de evolução ou de entraves e parte sempre deles para propor novos avanços e planejar novas atividades, por que acredita no potencial de seu aluno e que ele é capaz de sempre avançar em seus conceitos e melhorar seus desempenhos.

Como vimos anteriormente, a partir das testagens é importante um registro individual de cada aluno e de seu progresso e é aí que entra a:

FICHA de Acompanhamento Individual do Aluno

Um documento essencial que, em uma turma com diferentes níveis de escrita dos alunos, sem contar outros fatores e aprendizagens que devem ser considerados. É um documento fundamental para que o professor faça o acompanhamento adequado e fiel da evolução e progresso de cada aluno, bem como se o contrário não estiver ocorrendo. E a partir desse documento que deve ser cuidadosamente elaborado um planejamento específico com o objetivo de contribuir no processo de aprendizagem do meu aluno. Este documento deve também atravessar a dimensão anual e oferecer subsídios para o novo profissional que receberá este aluno e poderá dar continuidade ao trabalho tendo informações técnicas, fazendo desta ficha um instrumento técnico, com uma linguagem mais apropriada ao campo da educação dentro da nossa atuação docente e até interescolas, derrubando lacunas que só atrapalham todo este processo tão complexo.

 

  

  1. Para Refletirmos ....

 

Hoje a tecnologia está a nosso favor ao nos auxiliar com mais propriedade e acesso à programas que nos permitem criar/usar tabelas que gerenciamos com facilidade na criação de fichas para acompanhamento da aprendizagem dos nossos alunos e sua manutenção.

Nesse momento atual devemos considerar de grande relevância que a BNCC determina 10 competências gerais para a formação pretendida para nossos estudantes ao longo da educação básica.

Essas competências gerais propõe uma formação integral do nosso aluno, que considera tanto a dimensão cognitiva quanto a socioemocional. Por isso nossa ficha de acompanhamento individual do aluno também deve contemplar estes aspectos socioemocionais como fatores de formação do educando.

FORMAÇÃO INTEGRAL = DIMENSÃO COGNITIVA + SOCIOEMOCIONAL

Para encerrarmos convido a assistirem o vídeo abaixo que trata bem dessa dimensão socioemocional de nosso aluno e que nós, enquanto educadores, precisamos valorizar.  Quando um aluno tem problemas em sua aprendizagem é notório que muitos dos entraves perpassam por estas questões. A BNCC é muito feliz ao focar nestas habilidades e como vemos no esquema acima a formação integral do aluno perpassa por essas duas dimensões.  Será que enquanto educadores temos um amplo conhecimento deste campo de habilidades do nosso aluno e como podemos auxiliá-lo neste sentido? Encerro este nosso momento de retomadas teóricas com este vídeo que traz uma reflexão sobre o nosso conhecimento enquanto docente acerca das questões socioemocionais que perpassam a vida do meu aluno e que, com toda certeza, refletem em sua aprendizagem e como a escola pode vir a lidar melhor com essas questões.

Sugestão de Vídeo: Não Julgue!

Sugestão de leitura para aprofundamento do grupo alvo das Turmas do EJA

E-BOOK Orientações Didáticas: Alfabetização e Letramento EJA e MOVA

Capítulo II

Tópico 2: ‘O entendimento de como ocorre a aprendizagem da leitura e escrita’  p. 23 a 31 (Hipóteses da Escrita e Testagens);

Tópico 3: ‘Os conteúdos adquiridos e a relação com à Escola’ p. 32 a 36 (Fichas de Acompanhamento Individual do Aluno)

Sugestão de modelo de ficha de acompanhamento da aprendizagem individual do aluno que usamos na REDE:

Referências

 

SOARES, Maria Inês Bizzotto Alfabetização Linguística; da teoria a prática – Belo horizonte: Dimensão 2010

 

FERREIRO, EMILIA: Reflexões sobre a alfabetização (tradução Horácio Gonzalez), 2ª ed. – São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986 (coleção Polêmicas do nosso tempo: 17)

 

< https://letrasqueinspiram.com.br/2018/11/23/as-hipoteses-de-escrita-na-alfabetizacao/ >Acesso em: 14 abr.2020

 

< http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/ >Acesso em: 14 abr. 2020

Professora Flávia Vieira Pittaluga é Articuladora do Programa Municipal de Letramento e Alfabetização (PROMLA); Professora do 5º ano e Coordenadora Pedagógica dos AI da EMEF Oscar Grau.

Publicado em 12/05/2020

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